Biblioteca

Daniel já não sabia mais o que pensar. Dois meses era muito tempo para quem espera uma resposta, ou, no caso dele, uma conversa. Juliette parecia fazer de tudo para não ter que falar com ele, ou até mesmo para não ter que ficar no mesmo lugar que ele, e isso o estava matando. Eles precisavam conversar.
Procurou por ela na sala comunal da Sonserina, mas, como sempre nesses dois meses, ela não estava lá. Subiu então para a biblioteca, ela devia estar lá.

Na biblioteca, não foi difícil achá-la. A maioria das pessoas não vão para a biblioteca tão cedo assim.
Daniel se aproximou da mesa de Juliette sem fazer barulho,
Se importa?- ele perguntou, colocando a mão no enconsto de uma cadeira da mesa de Juli.

Fingiu que o susto não foi grande quando ouviu uma voz familiar. Fingir não se assustar era fácil para ela. Era só usar uma máscara de indiferença, como sempre fazia. Mas não sabia se poderia manter essa "indiferença" se olhasse diretamente para o garoto.

Nem um pouco. ela disse, não muito alto e sem tirar os olhos do livro. Ele ia falar com ela. Ela sabia. Não havia tentado controlar a legilimência nos dois últimos meses. Ele ia falar, e ela teria que responder. Não havia outro jeito.

Nos dois meses que se passaram, Juliette havia feito de tudo para evitar Daniel. Era exatamente por isso que não saía mais da biblioteca. Mas devia ter arranjado algum esconderijo melhor. Agora não havia mais jeito. Claro que sabia que mais cedo ou mais tarde teria que conversar com ele. Mas até então, fizera o possível e o impossível para adiar aquela conversa.

A indiferença de Juli não intimidou Daniel. Ele já tinha dois meses de prática no assunto, mas, mesmo assim, o deixou um pouco menos motivado.
Eu acho.. que a gente devia conversar.. - ele tentou falar normalmente, mas não conseguiu evitar um pausa de hesitação.
Ele havia pensado e repensado aquela conversa nas últimas semanas, mas nada podia tê-lo preparado para a conversa de verdade. E o pior de tudo, é que ele não teria a chance de pensar antes de dizer, porque ela ouviria como se tivesse dito.

Ela engoliu em seco. Fugiria se tivesse coragem para levantar ou até mesmo para se mexer. Mas não tinha. Fechou o livro mas nem por isso olhou diretamente para Daniel. Continuou encarando a capa do livro como se não existisse mais nada no mundo. E naquele momento ela realmente desejava que não existisse mais nada no mundo.

É... Verdade. ela fez sinal com uma das mãos para que ele se sentasse em qualquer cadeira naquela mesa. Calma, Juliette... pensou. Quanto mais rápido começar essa conversa, mais rápido termina.

Daniel puxou a cadeira a sua frente e se sentou. Abriu a boca para começar, mas não sabia exatamente o que dizer, e agradeceu por Juli estar tão concentrada assim em seu livro.
Ham.. isso vai ser meio difícil, então eu vou precisar da sua ajuda.. primeiro, sem legilimência, ok? Já é difícil demais falar tudo pensando antes, quem dirá falar sem pensar. E, dois.. - ele levantou o queixo de Juli para que ela olhasse para ele. Melhor assim - disse sorrindo. Senti falta de você olhando pra mim, pensou, mas não conseguiu falar.

Ele começou a falar. Juliette fez o possível para prestar atenção, o que era bem difícil. Com um pouco de sorte, ela conseguiu. Não o interrompeu enquanto ele falava, mas ficou praticamente sem ar quando o garoto levantou seu queixo, fazendo-a olhar para ele. Continuava exatamente como ela se lembrava. Ou não. Afinal, nos dois últimos meses, havia feito tudo para se lembrar o mínimo possível. Ela realmente tinha algumas coisas para falar. Precisava explicar porque o evitara todo esse tempo, e ainda estava devendo algumas respostas, mas preferia que ele falasse antes. Além do mais, duvidava que estivesse capaz de falar, pelo menos por enquanto.

Vai ser difícil. Não tentei controlar ultimamente. se esforçou para falar sobre a legilimência, mas, mesmo com todo o esforço, sua voz falhou um pouco, denunciando o nervosismo. Implorava mentalmente que o garoto não tivesse percebido.

Daniel engoliu em seco. É.. parece que é agora.. Ele percebeu que ela também estava um pouco nervosa, mas ele com certeza estava muito mais.
Olha.. desculpa se eu forcei a barra e fiz tudo andar muito rápido. Você não sabe o quanto eu gostaria de voltar atrás pra poder fazer tudo direito, aí quem sabe a gente não teria ficado dois meses tão distante. Putz, dois meses! Muita coisa, Juli. Dois meses sem falar com você, faz falta poxa.. - ele parou e olhou para baixo. Sentiu seu rosto ficar levemente avermelhado.
O que eu posso fazer pra gente ficar como antes? - falou tão baixo que ficou com medo de ter que repetir. Não sabia se conseguiria dizer mais nada.

Ele começou a falar sem parar. Juliette teve uma certa dificuldade para acompanhar, afinal, não falava com Daniel havia dois meses, e não estava mais tão acostumada com o modo de falar do garoto. Um tanto muito rápido para ela. Mas a garota conseguiu entender tudo. Sentiu o sangue subir para sua cabeça quando ele disse que dois meses sem falar com ela fazia falta.

Não pediu para Daniel repetir a pergunta que havia feito, mas também não tinha idéia de como responder.

Eu não sei... respondeu, completando logo depois. Eu não sei se dá pra voltar ao normal... Quer dizer... A gente pode até tentar, se você quiser... Mas eu acho difícil voltar ao normal.

Daniel ouviu o que Juliette disse, agradecendo por ela ter entendido sua pergunta de primeira, mas com nó na garganta pelo que ouviu. Tinha medo que ela dissesse alguma coisa desse tipo.
Hmm.. então, já que não podemos voltar ao normal.. que tal começarmos tudo de novo?
Ele estava disposto a não deixá-la sumir de sua vida tão facilmente.
Daniel Vonclaire, prazer. Você vem sempre aqui? - ele disse esticando sua mão para a garota.

Morgana... Parece que ele nao vai desistri tão fácil. ela pensou. Não que isso fosse ruim. Não era! Nem um pouco! Afinal, ele era praticamente a única pessoa em Hogwartas que se dava ao trabalho de falar com ela. Mas também, não que ela precisasse de pessoas. E não precisava. Mas também não queria parar de falar com a única pessoa com quem falava. Além do mais, não queria que os ataques de raiva voltassem. Nos dois meses que ficou sem falar com o garoto, a raiva súbita voltou. Enfim, tinha motivos suficientes para voltar a falar com ele. Depois de analisar os prós e os contras, disse, aindasem apertar a mão dele.

Juliette Dammett. Praticamente vivo aqui.